Semifusa Entrevista #3 – DJ Black Josie

DJ Black Josie é a alcunha de Luciana Gomes. Cantora, musicista, produtora cultural e relações públicas, criou sua personagem em 2004. Pesquisadora da “Música Preta Brasileira” termo utilizado por Sandra de Sá para definir a “Black Music” brasileira. O termo é uma alusão a denominação mais conhecida, “Música Popular Brasileira”. DJ Black Josie prepara seus sets mesclando canções antigas e contemporâneas, elaborando acima de tudo repertórios animados e dançantes. Josie utiliza aparelhagem e técnicas avançadas, faz remixes e intervenções ao vivo; manipula sons para recriação de músicas e arranjos diferentes com o uso de equipamentos específicos. A artista tem inúmeras experiências no cenário cultural de Belo Horizonte e entre o fim de 2010 e início de 2011 esteve fazendo apresentações na Europa.
Black Josie (Creditos Paloma Parentoni)
Como foi a experiência recente na Europa, adquiriu algum conhecimento diferenciado, ou foi apenas trabalhar mesmo?

Foi ótima e me trouxe muito conhecimento diferenciado. Circulei um pouco por alguns países e tive a oportunidade de tocar para públicos de perfis diferentes, admiradores e curiosos de música brasileira. Em Lisboa o evento que participei foi muito interessante, I Mostra de Identidades Brasileiras (www.mostradeidentidadesbrasileiras.com). Na Alemanha eu toquei num bar no réveillon e em Paris toquei um pouco no circuito de bares e tive um convite para tocar numa festa brasileira num circuito maior, de casas noturnas que realizam shows de artistas do circuito internacional. Deu tudo certíssimo, maravilha, em breve estarei de volta por lá.

Você é fundadora do Coletivo Djéias, atualmente, o cenário “underground” é marcado por esses coletivos, como você avalia essa tendência?

Eu acho ótima, que se propague para várias áreas artísticas. No caso do Coletivo Djéias, o coletivo é integrado à performance da ocupação sonora, à atuação artística em conjunto.

Você participou de inúmeros movimentos culturais de Belo Horizonte, principalmente relativos ao Soul Music. Qual a importância deles para a cidade, em sua opinião?

Eu acredito que eles são muito importantes e devemos voltar os olhos para eles e apoiá-los na profissionalização administrativa para que possam garantir a continuidade e desenvolvimento de suas atividades. É impressionante como tem pessoas que conhecem este gênero musical e dançam espontaneamente. Acho maravilhoso.

Esses movimentos são efetivamente valorizados de uma forma geral?

Não são como deveriam. Mas acho que é uma questão multifatorial. Certamente se a produção dos movimentos fosse um pouco mais profissionalizada e com foco na agregação poderia fazer valer mais o seu posicionamento e seu direito legítimo. A profissionalização dos métodos de produção seria um bom caminho para conquistarem maior reconhecimento e mais adeptos. ( não que faltem, mas quanto mais gente gostando, dançando e ouvindo melhor ! ).

A chamada “cultura popular” produz produtos culturais esteticamente satisfatórios atualmente?

Depende do conceito de cultura popular e de produto cultural. Acredito que com a internet e a digitalização produzir arte, ainda bem, ficou menos difícil de ter acesso ao que é produzido também. Há muitas pessoas produzindo de tudo, a grande questão de hoje é saber selecionar a arte que você quer apreciar dentro deste contexto de tanta produção. Baixar 1.000 cd’s em pouco tempo....vai dar pra ouvir tudo ? Se for um artista em pesquisa para criação, como selecionar o que ouvir? Os tempos são novos, a produção está ativa a todo vapor, a questão é, de toda essa produção, o que circula, o que chega democraticamente para as pessoas?

Você é uma pesquisadora cultural, estuda a arte negra brasileira. Você tem referências boas do passado. Atualmente como você avalia a produção cultural, principalmente negra no Brasil e no mundo?

Gostei da pergunta. Inicio a resposta repassando uma informação que ainda estou absorvendo e já perpetuando a discussão. O termo negro que nós utilizamos hoje é uma criação do final do século XIX e que ganhou peso no século XX. Aqueles que foram escravos e viveram a rotina do Brasil Colonial não conheceram a palavra “negro”, como aquela que designa a ele mesmo. Conheciam preto, pardo, como nas Irmandades dos pretos ou nas dos pardos.

Eu acredito que deva crescer ainda mais em algumas áreas, quero ver essa galera estudando piano e violino também. O tambor é de força ancestral e devemos todo respeito a esse instrumento maravilhoso, mas ele deve interagir com outros instrumentos. Precisamos transpor o estereótipo do tambor.
Já na música internacional, a base é afro descendente na essência de quase tudo que é produzido, até nas “Lady Gagas” da vida.

Você acha que a “internet” mudou a maneira de fazer música?

Claro, lógico, evidente. Ficou menos difícil de fazer músicas, de ter referências e até mesmo de improvisar um estúdio em casa. O mundo é outro depois da internet, com a música não é diferente. Os músicos que ainda não entenderam isso estão perdendo oportunidades.

A última pergunta, um pouco clichê, quais as referências pra sua geração e pras gerações que virão na discotecagem?

Talvez eu cite ilustres desconhecidos: Ademir Lemos, Big Boy, Oswaldo e sua Orquestra Invisível, Geraldinho -Quarteirão do Soul –BH, Dj Shadow.

Vale a pena conferir DJ Black Josie na internet:

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