Quarta feira, 17 de março, 19 horas na sala João Ceschiatti, uma reunião agradável e enriquecedora em meio a importantes nomes no cenário artístico musical de Minas Gerais.
Logo que entro no recinto, deparo-me com faces amigáveis e conhecidas como Marcilio Rosa (um dos maiores guitarristas de BH), Rodolfo Gullar (parceiro no Semifusa), Flávio Charchar, Luciano, Luiz com Z e Lucas Mortimer (Coletivo Pegada), este último, mestre de cerimônia da noite. Durante todo evento, entre o público fixo e flutuante, compareceram ao recinto cerca de 70 pessoas que puderam aproveitar todo o conteúdo que foi comentado e debatido durante a noite.
Da esq. pra dir: Lucas Mortimer (Coletivo Pegada) , Nestor Santana (representante da Secretária de Cultura -MG) , Vitor Santana (músico e diretor de articulação da SIM) e Israel do Vale (jornalista e Co-fundador da SIM)
O ontem:
Eis que são convidados a comporem a primeira mesa debatendo o que houve no cenário musical mineiro nos últimos 10 anos. As primeiras palavras da noite foram: “Nunca houve em Minas, um momento como este para a música e com tendências a crescimento”, proferidas por ninguém menos que Nestor Santana (representante da Secretária de Estado de Cultura) que compunha a mesa junto a Israel do Vale (jornalista e Co-fundador da SIM) e Vitor Santana (músico e diretor de articulação da SIM).
Foram debatidos assuntos referentes aos anos passados onde, havia a boa e velha vontade de fazer, porém não havia articulações entre os indivíduos, que por sua vez ainda não tinham dialogo com o poder publico. Segundo Nestor Santana, “o grande case do Música Minas (projeto musical) é a proximidade do poder público com a sociedade civil”, sendo que para este projeto, foi disponibilizado pelo estado uma verba de R$ 1.550.000,00 (um milhão e quinhentos e cinqüenta mil reais). Nestor ainda ressalta que a evolução do projeto é gradativa e o aperfeiçoamento está sendo buscado pelas entidades envolvidas.
Israel do Vale começa sua fala dizendo que é muito saudável saber que os músicos estão integrando os debates, finalmente estão percebendo a importância de suas perspectivas. O jornalista relembrou de diversos fatos, como “tentativas empreendedoras suicidas”, como trazer bandas undergrounds internacionais em seu antigo projeto Motormusic. De acordo com Israel, o inicio da SIM, em 2005, foi uma tentativa de gerenciamento de ansiedades, visando lidar com a dificuldade em lidar com o poder público e a cadeia produtiva da música. Neste contexto, lembra-se que percebeu que nesta tentativa de gerar um “coletivo”, haviam uns poucos carregando “a cruz”, enquanto os outros se afastavam aos poucos.
Israel ainda ressaltou a importância da passagem feliz da Secretária Heleanora Santa Rosa, formuladora das Leis de Incentivo da Cultura. Ele ainda apontou Minas como um estado vanguardista com relação ao Caráter Musico - Cultural: “Se há uma manifestação nos moldes que há hoje, é devido a Lei de Incentivo a Cultura e a pessoas como Marcos Barreto (responsável pelo campo cultural da VIVO) que alavancam o processo de fomentação musical e cultural.
O ultimo componente da mesa, Vitor Santana visou conduzir o debate para uma retrospectiva histórica, relembrando a criação da SIM em 5 de março de 2005 no Lapa Multishow. Ele relembra que neste mesmo ano o Ministro Gilberto Gil começa a instigar os estados para que haja uma política de mobilização para a música brasileira. Vitor pontuou a importância do Clube da Esquina, considerando um “marco para a música mineira”, e ainda a criação do Circuito Mineiro de Música Independente (CMMI). Ele relembra ainda a criação do Estatuto da SIM na Casa do Conde, no trabalho de guerrilha realizado pela SIM na busca por espaço e ainda na formação das parcerias realizadas ao longo dos anos com a iniciativa privada, como a Conexão Vivo e o a importância da conquista do Musica Minas, que passado levou 36 artistas mineiros para o exterior em 2009.
O Hoje:
No final do debate da primeira mesa, foi aberta uma rodada de perguntas, sendo esta a mais relevante: “qual a diferença do ontem da música independente?” sendo respondido o seguinte por Israel do Vale: “hoje temos a mídia a favor, temos as Leis de Incentivo a Cultura, o Musica Minas, que é um projeto brilhante, mas ainda não é o suficiente. Ainda há dificuldade em fazer os artistas circularem, precisamos mais que passagens (projeto Musica Minas), precisamos de um conjunto de ações favoráveis, um trabalho sobre a imagem do artista” encerrando a primeira mesa.
Para debater o tema atualidade, o anfitrião Lucas Mortimer convidou ao palco Kuru Lima (produtor cultural e ouvidor da SIM ), Reinaldo Dias (Diretor Administrativo da SIM) e Thalles Lopes (produtor, ex ouvidor da SIM e articulador do Fora do Eixo). De inicio Kuru já veio parabenizando o trabalho realizado pelo Fora do Eixo Minas, que segundo ele, está cada vez mais estruturado. O produtor ainda pontuou que a música aqui (leia Minas Gerais) deveria se chamar Inter-dependente ao invés de independente, porque a diferença é que o cenário mineiro tem a capacidade ímpar de “fazer junto”. “Minas consegue fazer hoje o cenário interdependente bater de frente, fazer um pau a pau com o cenário mainstream.”
“A construção no tempo é importante! As coisas precisam de tempo para acontecer” disse Kuru, apontando os erros cometidos pelo Música Minas no primeiro ano. “Em 2010 já vislumbramos diversos acertos que serão realizados, dentre eles, um catalogo setorial (divisão de artistas por estilos) e uma estruturação cada vez maior no intercambio de artistas de Minas para o mundo”.
Reinaldo Dias foi direto e objetivo: “Nunca se vence uma guerra sozinho” começou ele com esta frase, demonstrando que o futuro da música mineira realmente está em nossas mãos (dos coletivos). “O que precisamos é de movimento, debates e diálogos entre as instituições civis e o Poder público, que em Minas, injeta uma verba de R$70.000.000,00 (acredite, você não leu os zeros errados, são mesmo 70 milhões de reais) por ano em cultura” finalizou o diretor.
Thalles do Fora do Eixo Minas fechou a noite apontando os cinco últimos anos como o novo momento da música, não só em Minas, mas no Brasil e no mundo. “Nos últimos anos tivemos a criação e a continuidade da SIM, do Circuito Fora do Eixo (CFE) e da Abrafin (Associação Brasileira de Festivais Independentes). Percebemos que a música independente é o nosso caminho, visto a quebra do império das grandes gravadoras e a mudança do cenário fonográfico.”
O produtor, recém chegado de Brasília ressaltou que “há política em tudo, inclusive na música”, “cutucando” segundo ele uma ferida. “Só de haver essa articulação aqui hoje, esse monte de gente pensando além do eu, isto é uma articulação política pensando no futuro da música, da coletividade artística e em melhores condições para nós mesmos!”
Da esq. pra dir: Lucas Mortimer (Coletivo Pegada), Kuru Lima (produtor cultural e ouvidor da SIM), Reinaldo Dias (Diretor Administrativo da SIM) e Thalles Lopes (Fora do Eixo Minas)
Por fim Thalles ressaltou a importância do Fora do Eixo no país, tendo hoje representatividade em 23 estados da União, sendo Minas o de maior. O produtor lembrou ainda que a partir de julho, ocorrerão festivais independentes em todo Brasil, durante todos os fins de semana até o começo de dezembro, o que será uma conquista ainda maior para a música independente.
Saímos de lá por volta das 23 horas (lembrando que a previsão de termino era as 21) todos satisfeitos, com ares de missão cumprida, e ainda, muitos de nós permaneceram em debates informais ao som da boa música do DelegasCia no bar A Casa, tomando uma cerveja, porque ninguém é de ferro.
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